sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Ela já não chora

Os primeiros dias de creche da princesa custaram-me muito, alguns de vocês terão acompanhado, e sabem do que falo. Nunca saberão ao certo, mas sei que imaginam a dor. É uma dor que apazigua com o passar dos dias, e que hoje, quase não me lembro verdadeiramente dela. Chego a desdenhar de mim própria, da minha dor (olhem só o ridículo). Mas lembro-me (vagamente) que doeu. Deixá-la num local estranho, vir para casa, saber que ficou a chorar, com pessoas (muito queridas, mas...) que não conhecia de lado nenhum, jogou-me lá para baixo durante uns dias, mas depois passou! Disseram-me que passava. Eu também sabia que ia passar e que ainda me ia rir muito disso. Passou. Levou o seu tempo, mas passou. Um mês pareceu uma eternidade, lembro-me. Lembro-me de querer muito que chegasse o dia em que a deixava sem chorar. Ia ser muito mais fácil para todos. Mas também sabia que aquele choro era normal durante o período de adaptação. Tinha de ser forte e aguentar, sem lágrimas e com um sorriso no rosto, quando me despedia dela. Os homens são mais fortes nos assuntos do coração, e devo confessar-vos que a coisa ficou muito mais fácil quando começou a ser o João a levá-la de manhã. Olhos que não vêm, coração que não sente. Mas o meu sentia. Mas não via. E isso ajudava tanto! Assim que a entregava, tinha a ordem expressa de me ligar para contar como tinha ficado, e eu deste lado, esperava sempre ouvir um "Hoje não chorou!". Esse dia chegou. Tenho pena de não saber precisar o dia, mas a coisa foi acontecendo gradualmente. Haviam dias que chorava um bocadinho, outros que só franzia a cara e fingia que chorava e outros que ficava sem grande reacção. Mas hoje já podemos dizer que a gordinha vai para a creche super feliz e muito bem disposta. Quando lhe perguntamos: "Quem vai para a escolinha?" Ela põe o dedo no ar e um sorriso maroto, do tamanho do mundo na cara. Quando entramos na creche quer ir pelo seu próprio pé até à sala. Estica os braços para a educadora. E sabem que mais? Até já aconteceu não querer vir embora! 


Por vezes, à saída, ainda nos joga um pouco do seu charme, como diz a educadora. Gosto de chegar sem que me veja, gosto de a ver brincar, e por isso vou pé-ante-pé, e fico ali, até que me descubra numa espreitadela à porta. Corre para mim e faz: ãh ãh ãh (não vou chamar chorar àquilo!). "É só charme!"


Quem com certeza ajuda muito neste processo são uns passarinhos de estimação, que vivem numa gaiola mesmo à entrada escola. Eles são super queridos por todas as crianças que a frequentam e quase todos os dias vejo excursões, arrastando pais, mães, avós, tios, irmãos, para apreciá-los e ouvi-los a chilrear. A minha querida filha é uma delas, que tanto na chegada como na saída, quer porque quer, (já faz parte do ritual e não vale a pena ir com pressa e contornar "o obstáculo") ir ver os passarinhos, chamá-los, mandar-lhes beijinhos e fazer-lhes adeus. Quem ia gostar muito de conhecer estes passarinhos era o nosso avô. Sempre teve gaiolas com pássaros, sempre gostou de os ouvir e sempre lhe fizeram muita companhia. Quando nos vier visitar durante a semana, temos de fazer uma tal de excursão e apresentar-lhe estes amigos da sua bisneta querida. Temos a certeza que vai adorar! 



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